Geólogo piauiense integra equipe internacional responsável pelo Guia Mundial da Opala
O geólogo Érico Gomes, professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI) e presidente da Associação de Geólogos do Piauí (AGEPI), acaba de alcançar um marco significativo em sua carreira de quase quatro décadas dedicadas ao estudo da opala. Ele foi convidado a integrar a equipe internacional responsável pela elaboração do Guia Internacional da Opala, iniciativa inédita que reunirá especialistas de países como Austrália, México, Etiópia, França, Inglaterra e Estados Unidos. O Brasil será representado pela opala de Pedro II (PI), única região do país onde o mineral ocorre.

O nome opala deriva do termo upala, do sânscrito, língua sagrada dos sacerdotes hindus, que significa “pedra preciosa”. Há registros pré-históricos no Quênia, além de referências na Grécia, Roma, Egito, entre povos aborígenes australianos e civilizações pré-colombianas do México e da América Central, todos com vasto acervo de joias e esculturas contendo o mineral.

Segundo Érico Gomes, cada mineral guarda registros peculiares do ambiente em que se formou, refletindo características exclusivas do processo geológico que lhe deu origem. É justamente nesse aspecto que se destaca a opala brasileira. Enquanto a opala mexicana, amplamente conhecida no mercado internacional, tem origem vulcânica, e as opalas da Austrália e da Etiópia se formam em ambientes sedimentares associados ao intemperismo, a opala de Pedro II possui origem hidrotermal. Essa diferença de gênese confere ao mineral piauiense propriedades singulares, como maior resistência e dureza, o que facilita o trabalho de lapidação e aumenta sua durabilidade em joias.
Contudo, esse diferencial ainda é pouco reconhecido comercialmente, já que a opala brasileira raramente é identificada ou comparada em outros mercados. Gomes acredita que, ao explicar essas distinções no Guia Internacional da Opala, o valor do mineral tende a se elevar, tornando-o mais desejado e competitivo. “O guia apresentará essas diferenças com clareza, embora a confirmação da origem de cada amostra ainda dependa de análises laboratoriais específicas, necessárias para a certificação adequada”, explica.
De acordo com o artigo “A gênese hidrotermal da opala no estado do Piauí”, o contexto geológico da mineralização, marcado pela associação entre a soleira de diabásio e os arenitos, sugere que o emplacement desses corpos básicos, ao ocupar fissuras pré-existentes, tenha controlado a distribuição das gemas no estado.
Sobre a importância internacional da pedra, Érico Gomes destaca que a produção de opala de Pedro II sempre foi praticamente invisível, apesar de abastecer o mercado externo desde a década de 1960. Segundo ele, é comum que a opala piauiense seja comercializada como se fosse australiana, levando compradores, colecionadores, joalheiros e até museus ao redor do mundo a adquirir o mineral acreditando ser proveniente de outro país.

Por isso, a inclusão da opala de Pedro II no Guia Internacional representa um avanço expressivo. “O documento será amplamente consultado por laboratórios, escolas, bibliotecas, colecionadores e comerciantes, reunindo as características e propriedades oficiais da opala piauiense. Assim, quando uma amostra for submetida à certificação, será possível identificar sua verdadeira origem, e não mais atribuí-la a outro país. Essa visibilidade tende a ampliar o reconhecimento mundial e fortalecer a opala no mercado nacional”, afirma.


A relação de Érico Gomes com a Opala começou ainda na graduação em Geologia, no Pará, há 37 anos. Intrigado pelas particularidades do mineral encontrado no norte do Piauí, o pesquisador dedicou-se ao reconhecimento científico da gema e à valorização geológica da região de Pedro II. Para ele, integrar a equipe do Guia Internacional da Opala é o coroamento de décadas de dedicação “isso é resultado de um trabalho de vida inteira. Foram sete anos publicando artigos que deram grande visibilidade, então é muito gratificante representar o Piauí e apresentar o Brasil nesse guia, debatendo com pesquisadores que são, inclusive, autores dos livros que estudei na faculdade.”

Mesmo tendo ingressado na equipe há apenas dois meses, o geólogo relata que conseguiu apresentar propostas integralmente aprovadas, tanto sobre as opalas de Pedro II e Buriti dos Montes quanto sobre ajustes na própria classificação do mineral. Para ele, essa aceitação demonstra a relevância da contribuição brasileira e reforça a visibilidade que o Piauí e o Brasil conquistarão com a publicação.
Opala: um patrimônio natural do Piauí que brilha cada vez mais no cenário internacional.
Fonte: GOMES, Érico Rodrigues; COSTA, Marcondes Lima da; MARQUES, Gisele Tavares. A gênese hidrotermal da opala no estado do Piauí. Revista da Academia de Ciências do Piauí, Teresina, v. 3, n. 3, p. 91–106, jan./jun. 2022.